terça-feira, 1 de março de 2011

Feliz para sempre



Melhor tentar ser feliz no singular ?

Quando um grande amor termina ninguém sabe direito o que fazer ou como reagir – nem o casal nem os amigos que orbitaram em trono deles. A primeira reação é de pesar e espanto – como se isso nunca estivesse no rol de possibilidades, como se não bastasse estar juntos para separar ou vivo para morrer.

O fim, na imensa maioria das vezes, é vivido e sentido como uma traição – do outro ou da vida. Nós ainda não integramos a partícula de morte que existe em cada partícula de vida. A ilusão do juntos-para-sempre nos encanta e entorpece desde cedo e continua criando enredos e personagens com que vestimos a realidade. Todo um reino é criado onde os dois, afortunados contemplados um-com-o-outro, gozarão juntos esta sorte e merecimento. Para sempre.

Os contos de fada iludem nosso imaginário há muito, desde o tempo do era uma vez. Contam lindas histórias que relatam com detalhes as lutas e obstáculos vencidos pelos heróis até o encontro, o beijo, o baile, a libertação da torre ou da maldição. Quanta força e astúcia vemos aí, quanta determinação e criatividade para vencer, matar ou driblar as bruxas, monstros ou algozes do enredo. O casal da vez consegue dar cabo de situações hediondas para que vença o amor.

A gente começa a acreditar que, para sempre haverá recursos para enfrentar a vida, com suas armadilhas e enganos. Ilumina-se a esperança de haver em cada um de nós a arte e a manha para levar o amor adiante mundos afora. Só que as histórias terminam antes de mostrar como. Aliás, parece mesmo é que falta um pedaço da trama, que arrancaram um naco do livro – eles sempre terminam quando a vida de casado começa! Assim, não mais que de repente, eles foram felizes para sempre enquanto nossos castelos se desfazem e a sala do trono, onde reinavam rei e rainha, fica vazia, mesmo que a gente tenha cuidado de tudo com muito amor: não estamos mais felizes. Resta o susto presente e o medo futuro.

Já é tempo de compreender os fins, as mortes e transformações que a vida oferece. Não tem mais cabimento olhar pra isso com a mesma carinha de susto da princesa do era uma vez naquele reino encantado. Amar se aprende amando e não vem com garantias. A gente inventa armas contra os monstros, descobre saídas e portinhas, mas também esbarra em muralhas de pedra, paredes de vidro ou blindagens intransponíveis – a realidade concreta encarnada no outro! Assim termina o juntos e instala-se a distância e a solidão. Nada parecido com ser feliz, some o sempre e desponta o nunca. Quando não podemos ser quem somos, configura-se o aprisionamento. Recomeça, então, o ciclo. E o que esperar, outro que virá nos libertar?

Melhor tentar ser feliz no singular e recolher-se, então, para reencontrar o príncipe herói que vive dentro de cada uma e nos dá força, determinação, coragem e confiança pra encarar a dor e a saudade, para aquecer o frio da falta e assumir tarefas e habilidades para cuidar de si e da vida. Guardar cuidadosamente as melhores lembranças e colecionar experiências vividas. Amadurecer a menina e fortalecer a mulher – para viver mais amores e cada vez melhores encontros com trocas mais reais do que aquela ilusão de completude depositada no outro.
Ser si mesma é que é condição pra ser feliz !


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